Sobre a sua barriga

abril 28, 2018

 

Quieto, não digo nada.

É da minha natureza observar.

Eu tenho presas e garras afiadas. Eu uso bigodes. Eu tenho um rabo como aquele do demônio.

Mas eu não sou.

Quieto, eu me banho ao sol da manhã.

À noite, sobre o muro, eu observo as estrelas.

Em cada uma delas, o brilho de uma vida.

Vejo na lua o reflexo do sol.

Quieto, eu observo a natureza.

Caminho por entre os arbustos. Eu sinto a brisa.

E o que eu vejo é reflexo de mim mesmo.

Se você mora no meio do quarteirão, eu estarei, simultaneamente, refestelado em ambas as esquinas.

Aguardando, ansioso, que você me atropele com o seu carro, enquanto dirige rápido, desapercebida.

Enquanto isso eu me banho, lambendo os meus pelos.

É que eu preciso morrer sete vezes para cumprir o meu carma.

E me tornar um bicho melhor.

Mas se você me vê, como eu realmente sou, e me dá carinho; irei retribuir em dobro.

Caminharei com as minhas patas macias sobre a sua barriga.

 

Deixa

abril 25, 2018

Quantum prayer

abril 22, 2018

Go(o)d

(infinit)(sourc)e

L(ove)(ight)

(Pe)(H)a(ce)(rmony)

every(time)(where)

(alw)(gr)a(ys)(teful)

I Am

 

(23r0) Simple excerpts from Siddhartha, an Indian tale, by Hermann Hesse.

 

(0n3) Tenderly, he looked into the rushing water, into the transparent green, into the crystal lines of its drawing, so rich in secrets. Bright pearls he saw rising from the deep, quiet bubbles of air floating on the reflecting surface, the blue of the sky being depicted in it. With a thousand eyes, the river looked at him, with green ones, with white ones, with crystal ones, with sky blue ones. How did he love this water, how did it delight him, how grateful was he to it! In his heart he heard the voice talking, which was newly awaking, and it told him: Love this water! Stay near it! Learn from it! Oh yes, he wanted to learn from it, he wanted to listen to it. He who would understand this water and its secrets, so it seemed to him, would also understand many other things, many secrets, all secrets.

 

But out of all secrets of the river, he today only saw one, this one touched his soul. He saw: this water ran and ran, incessantly it ran, and was nevertheless always there, was always at all times the same and yet new in every moment! Great be he who would grasp this, understand this! He understood and grasped it not, only felt some idea of it stirring, a distant memory, divine voices.

 

(7w0) In a friendly manner, he lived side by side with Vasuveda, and occasionally they exchanged some words. Vasuveda was no friend of words; rarely, Siddhartha succeeded in persuading him to speak. “Did you,” so he asked him one time, “did you too learn that secret from the river: that there is no time?”

 

Vasuveda’s face was filled with a bright smile. “Yes, Siddhartha,” he spoke. “It is this what you mean, isn’t it: that the river is everywhere at once, at the source and at the mouth, at the waterfalls, at the ferry, at the rapids, in the sea, in the mountains, everywhere at once, and that there is only the present time for it, not the shadow of the past, not the shadow of the future?

 

“This is it,” said Siddhartha. “And when I had learned it, I looked at my life, and it was also a river, and the boy Siddhartha was only separated from the man Siddhartha and from the old man Siddhartha by a shadow, not by something real. Also, Siddhartha’s previous births were no past, and his death and his return to Brahma was no future. Nothing was, nothing will be; everything is, everything has existence and is present.”

 

(7hr33) Quoth Siddhartha, smiling from his old eyes: “Do you call yourself a searcher, oh venerable one, though you are already of an old in years and are wearing the robe of Gotama’s monks?” “It’s true, I’m old,” spoke Govinda, “but I haven’t stopped searching. Never I’ll stop searching, this seems to me my destiny. You too, so it seems to me, have been searching. Would you like to tell me something, oh honourable one?”

 

Quoth Siddhartha: What should I possibly have to tell you, oh venerable one? Perhaps that you’re searching far too much? That in all that searching, you don’t find the time for finding?” “How come?” asked Govinda.

 

“When someone is searching,” said Siddhartha, “then it might easily happen that the only thing his eyes still see is that what he searches for, that he is unable to find anything, to let anything enter his mind, because he always thinks of nothing but the object of his search, because he has a goal, because he is obsessed by the goal. Searching means: having a goal. You, oh venerable one, are perhaps indeed a searcher, because, striving for your goal, there are many things you don’t see, which are directly in front of your eyes.”

 

Ciclope

abril 13, 2018

 

OlhOs estãO para enxergar

nO mundO dOs sentidOs

mas para ver

– transcendendO a dualidade –

sãO Os OlhOs da alma

 

Em planta

abril 11, 2018

através dos ventos solares

a luz da lua refletida

concentrada em gotas de orvalho

logo, logo(s)

brotará da terra

a semente

só o amor (r)existe

(e) terna mente

 

3d Yin-Yang

abril 5, 2018

Uma explicação metafórica do intercâmbio entre os mundos da criação e da manifestação

 

Este texto traz uma visão simples, conceitual e esquemática para a abordagem de um assunto relativamente complexo, que é o estudo do intercâmbio entre inconsciente e consciente, matéria de interesse especialmente da psicologia. Por tratar-se de uma explicação metafórica, não tem ancoragem na bibliografia acadêmica, devendo ser apreciada mais como imagem poética, exercício da criação de uma pessoa simples interessada nas relações entre as criaturas – tanto nos seus aspectos objetivos quanto subjetivos. Também não espere encontrar aqui nada novo, coisa que nunca foi dita ou que vá se chocar contra àquilo que cada um de nós traz (intuitivamente) dentro do peito. Apenas a roupagem é diferente. A proposta deste texto é um exercício de simplicidade e poesia, reitero.

O ponto de partida para essa nossa viagem é o símbolo tradicional do Yin-Yang, conforme apresentado na Figura 1, uma imagem bidimensional (2d). É sabido que este símbolo é a representação do eterno movimento, ou de permutas entre pólos opostos de natureza dual; aqui representados pelo Yin (sombra, feminino, Lua, reativo) e o Yang (luz, masculino, Sol, ativo). É interessante observar que o pequeno círculo de sombra interior ao Yang remete a ideia de que o Yang nasce do Yin e, vice-versa, o pequeno círculo de luz interior ao Yin remete a ideia de que o Yin nasce do Yang. O símbolo como um todo, por sua vez, transmite a ideia de movimento no sentido horário, sendo que a interface Yin-Yang é representada por uma onda em progressão, também associada ao território da manifestação, ao mundo dos sentidos, morada da dualidade, onde se dão as trocas conscientes entre as criaturas.

Nossa viagem prossegue pelo exercício da imaginação de um símbolo Yin-Yang 3d, conforme apresentado na Figura 2. Esta transmutação do símbolo resulta numa esfera. O Yang é como um vórtice ou redemoinho que gira no sentido anti-horário, vindo do equador, e cujo epicentro está no pólo norte. No topo da esfera, ou pólo norte, nós temos o ponto onde o Yang nasce do Yin.

Por sua vez, no pólo sul, ou vale da esfera, temos o ponto onde o Yin nasce do Yang. O Yin gira no sentido horário, num redemoinho ou vórtice, descendo do equador em direção ao pólo sul (vale). E, nessa analogia geográfica com o nosso pequeno planeta – a Terra –, vamos encontrar na zona tropical a região de interface entre Yin e Yang. Uma região turbulenta, onde outros redemoinhos se formam (eles são representados por quatro vórtices na Figura 2), como forma de acomodar nesta área a interface entre Yin e Yang, onde naturalmente dá-se a experiência entre estes pólos opostos.

Esta representação idealizada da Figura 2 é a morada dos sentidos, o mundo exterior, do qual estamos conscientes. Um mundo de múltiplas manifestações e criaturas (identificadas pelos redemoinhos da Figura 2), onde impera a dualidade e aprendemos (lentamente) uns com os outros através do atrito entre nossos egos, que são as nossas interações no plano da matéria. Mas, assim como existe um mundo exterior, há também um mundo interior, subjetivo, do qual muita vez não nos damos conta.

Nossa jornada prossegue através dessa nova abstração, que nada mais é que o lado de dentro dessa mesma esfera. A Figura 3(a) revela o mundo interior, simbolizado pelo interior da esfera, morada do inconsciente, de onde parte a intuição. Por dentro, podemos observar dois redemoinhos (ou vórtices): Um redemoinho Yang que parte do topo da esfera (pólo norte), gira no sentido anti-horário e desce em direção ao centro – conforme representado na Figura 3(b). E o outro, um vórtice Yin que parte do pólo sul (vale), roda no sentido horário e sobe em direção ao centro – vide Figura 3(c).

Bem no centro desse mundo interior, vamos encontrar um ponto onde estes dois redemoinhos convergem: um ponto de quietude, imanente, não-dual. Este é aquele ponto atribuído ao inconsciente coletivo, o que está a conectar todas as criaturas do universo. Este ponto é a morada da criação, de onde resultam todos os seres e as manifestações do mundo exterior.

Dessa viagem pela geometria do Yin-Yang 3d podemos extrair algumas ideias e interpretações poéticas. Ainda que elas não sejam de natureza científica, podem nos ajudar através de nossa jornada nesse nosso pequeno planeta. Afinal, o que é a vida terrena senão uma experiência transitória no mundo da manifestação, cujo objetivo é o próprio aprendizado e a evolução? Então, aí vão algumas ideias, e você tem todo o direito de concordar ou não com elas, afinal eu sou apenas uma esfera, dentro da esfera da Terra, junta a bilhões de outras esferas humanas.

Existem esferas dentro de esferas. O número delas cresce infinitamente tanto externamente quanto internamente a nós mesmos. Por exemplo: aquela esfera da Figura 2 pode ser imaginada como a esfera de uma família de quatro pessoas, onde cada uma das pessoas é um daqueles quatro vórtices próximos a linha do equador.

Apesar de vivermos (predominantemente) no mundo exterior – aquele da manifestação – e realizarmos a troca de nossas experiências com todos os outros seres através dos nossos cinco sentidos (o tato, o olfato, a visão, a audição e o paladar), devemos estar atentos em fazê-lo de acordo, em consonância, com o nosso eu-interior – que pode ser também chamado de inconsciente ou de super-ego. Sempre que nos manifestamos em desacordo com a nossa intuição, isto resultará em divergências que, por mais que tentemos dominar, em algum momento elas se exteriorizarão. E quanto maior a tensão consciente / inconsciente, mais explosiva se dará a manifestação. Não há como fugirmos de nós mesmos.

É da moderação através dos pólos norte e sul, topo e vale, Yang e Yin – ambos ilustrados nas Figuras 2 e 3 –, ou seja, das trocas constantes entre o mundo interior e o mundo exterior, de uma espécie de afinação ou de sintonia entre eles, é que conseguimos caminhar de forma equilibrada através do mundo da manifestação. A criatura pode estar em meio a uma verdadeira batalha, e ainda assim sentir-se em paz e feliz. Noutro extremo, a criatura pode estar na quietude de um santuário, na melhor das companhias, com o coração aos solavancos, em meio a um turbilhão de sentimentos conflitantes (a pronunciada separação entre consciente e inconsciente). Em última instância, a vida é uma experiência do ser consigo mesmo.

No interior de cada criatura, bem no seu centro, está o espaço de quietude, o seu lugar imanente, não-dual, onde todas as aparentes ambigüidades se acomodam. Outros chamam este lugar de inconsciente coletivo. Este é o mundo da criação, origem de todas as criaturas e as suas manifestações. Muita vez a criação dá-se de forma inconsciente, noutras vezes sendo percebida como intuição. Mas existe um sentido pré-estabelecido, e é sempre este: do mundo interno, aquele das ideias, para o mundo externo, o da manifestação. Este é o trabalho, a tarefa da existência aqui na Terra: perseguir essa senda, trazer do inconsciente para o consciente, elevar a sua luz. Apenas os seres iluminados, aqueles que trabalham do espaço imanente, em sintonia com o inconsciente coletivo, são aqueles capazes de criar conscientemente a realidade.