Esse poema

março 18, 2019

           

vem do Sol um poema novo em velocidade astronômica a todo instante. mas ele ainda não chegou se Você não o lê. ele é como uma melodia suave que acaricia a sua pele deliciosamente. mas Você não a ouve porque ela é de se compartilhar. o sublime perfume envolve a morada do seu coração a todo o instante. acalenta-o em ondas concêntricas. mas Você não o sente se o seu rádio não está sintonizado na mesma estação. este poema, que está chegando, se Você o lê, não te deixa, porque ele nunca partiu. mas se o poema passa desapercebido, então ele é todo o vazio existencial. algo que Você desconhece mas pressente a falta de. vive ansiando por. na próxima esquina. talvez amanhã. depois de resolver aquilo. somente durante as refeições: uma pitada de sal que faltou no tempero. a brisa que não vem no dia quente. chuva minguada que não deixa a terra fértil. mas se o poema nasce em Você enquanto Você o lê, dentro de si Você o imagina, ele retorna para Você. é como algo sensível e não de todo compreensível. p.o:r.q:u.e: esse poema é Você. para Você se lembrar sempre que faltar uma colher de luz em sua vida. vem do Sol um poema novo em velocidade astronômica a todo instante.

        

felicidade

março 16, 2019

          
uma fagulha,
atrito,
uma coceira nas hélices dos dnas.
não em uma célula,
mas em todo o tecido
– ao mesmo tempo.
convenhamos:
uma coincidência das grandes!
e isso te ilumina.
alguém pergunta
<< 1n35p3r4d4m3n73 >>
como vai sua vida?
você sorri para uma criança,
ela sorri de volta.
na estrada
nuvens de chuva adiante,
um arco-íris a tua direita,
o por do sol no retrovisor.
você não sabe ao certo para onde a vida vai te levar.
só sabe o nome disso e quer que continue.
então faz o teu melhor
e confia em si.

desperta

março 13, 2019

metamorfose

março 12, 2019


quando eu era um bebê não era assim.
eu imaginava que era parte do todo que era a minha mãe.
e isso, por si só, era mais do que eu imaginei por muito tempo.
(mas não mais do que eu imagino agora.)
depois eu cresci e passei a me identificar comigo mesmo;
e ao outro, e ao mundo, como diferente de mim.
os cinco sentidos são assim:
portais para as trocas com o mundo externo.
e não foi só comigo, isso foi acontecendo com cada um de nós,
quando nos demos conta, já estávamos pensando, refletindo,
cada qual criou identidade própria, única, pessoal
– ao mesmo tempo miraculosa e assustadora.
quando a razão se instalou em mim
eu passei a viver na superfície das coisas.
nesse campo de batalha que é a morada da matéria,
do manifesto, da diferenciação e da impermanência.
porque você há de concordar comigo que aqui
tudo é cíclico, insustentável, e, no limite,
nunca nos entenderemos.
a lei da entropia garante:
cada um de nós retornará, a seu tempo,
ao estado de mínima energia.
ou você é água, ou você é fogo,
ou você é ar, ou você é terra:
e a razão pede que eu tome partido.
(mas se é verdade que há um liame
ao lado de dentro das coisas)
na planície há um lago onde sopra a brisa ao sol
que sempre será.
e se com uma lupa eu ampliar o seu cérebro
não restará nem vestígio da ideia
de tão separados os neurônios como
as estrelas do céu.
(mas se é verdade que há um liame
ao lado de dentro das coisas)
há uma convergência das linhas do tempo
para esse lugar.
o big bang das ideias está espalhado
mas é possível juntar os cacos dentro.
a todo momento que você for capaz
de submergir.
(existe esse lugar de integridade)
nada do que aparenta ser obtuso
é de fato irreconciliável
(na simples mudança de dimensão:
espaço íntimo do ser).